Perdão e tolerância como caminhos para paz: construção coletiva e diária

Estamos encerrando o ano festivo dos 15 Anos NEM. Celebramos uma trajetória de estudo, reflexão, ações em prol da mediação como instrumento efetivo de atendimento de conflitos. Alegres, podemos afirmar que tivemos a oportunidade de compartilhar conhecimentos, identificar desafios, confirmar convicções e dirimir conflitos.

Neste período de encerramento de ano em que os corações se preparam para receber não apenas presentes materiais, mas a presença de amigos, parentes, colegas e que estamos abertos ao abraço do outro, é necessário lembrar que perdão e tolerância se apresentam como caminhos para a paz. Na vida temos pontes e muros, os muros afastam, as pontes ligam e religam. Somente o perdão pode fazer desvanecer o muro da mágoa, do ressentimento, dando início à ponte da tolerância, rumo à justiça e à paz. A paz inicia através de cada um de nós, mas, para que tenha repercussão, precisa se tornar uma construção coletiva e diária. Esta é nossa esperança, estarmos presentes em cada dia na busca incessante de diálogo, de entendimento, cooperação, integração. Lembra o Papa Francisco ,na obra Quem sou eu para julgar?: “O caminho da esperança não é fácil e não pode ser percorrido sozinho. Há um provérbio africano que diz: “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado”. A união dos integrantes do Núcleo de Estudos de Mediação (NEM) tornou possível a caminhada de 15 anos e nos fortalecerá para continuarmos o nosso trilhar, superando desafios, encontrando espaços, agindo em prol da paz. Cultivemos o perdão, sejamos tolerantes, não percamos a esperança de que um mundo melhor é possível, que cumpre a cada um e a todos participar da criação, religando, tecendo relações de amor.

Agradeço a todos que, durante esses 15 anos, fizeram o Núcleo de Estudos de Mediação e aqueles que, nesse período festivo, estiveram unidos visando oferecer, de forma gratuita e agradecida, o seu melhor para os eventos NEM 15 Anos.

Boas Festas e Feliz 2018!
# SomosNEM

Genacéia da Silva Alberton
Coordenadora do Núcleo de Estudos de Mediação

Coordenadora do NEM, Desa Genacéia Alberton, recebe o troféu Amigo da Polícia

A Desembargadora Genacéia Alberton, Coordenadora do NEM, recebeu ontem (13/12) das mãos do Chefe da Polícia Civil Gaúcha, Delegado Emerson Wendt, o troféu "Amigo da Polícia". Estiveram presentes na cerimônia o Sub-chefe de Polícia, Delegado Leonel Carivali; a Chefe de Gabinete da Chefia de Polícia, Delegada Jovenessa Pace Soares; o idealizador do Programa Mediar RS e integrante do NEM, Inspetor Moyses Prates; a Vice-Coordenadora do NEM, Angelita Garcia; bem como as integrantes do NEM Administrativo e Mediadoras, Adriana Conter Leite e Suzete Carbonell Leal. O Nem parabeniza a sua Coordenadora pelo merecido reconhecimento na construção de pontes entre as Instituições, com vistas a promoção da mediação, do diálogo, do olhar humano, colaborativo e da cultura de paz. #SomosNEM







Nem Memória - Homenagem ao Frei Luciano Bruxel

O NEM Memória tem o objetivo de reconhecer o trabalho de pessoas que colaboraram para o desenvolvimento do Núcleo de Estudos de Mediação, assim como para o desenvolvimento da Mediação no Estado do Rio Grande do Sul. Nesta edição, o homenageado é o Diretor do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente (CPCA), Frei Luciano Bruxel.

Construindo a paz, fazendo o bem!
É uma alegria para o Núcleo de Estudos de Mediação (NEM) encerrar o ano festivo de seus 15 anos com a presença de Frei Luciano Elias Bruxel como nosso homenageado. A sua figura humana e serena, com olhar sempre voltado para os mais pobres e excluídos fizeram do projeto de Mediação Comunitária na Lomba do Pinheiro uma grande e desafiadora missão.

Entendíamos, em 2007, que não poderíamos, como Núcleo de Estudos, permanecer apenas na teoria. Era preciso sair às ruas, falar e aplicar a mediação na comunidade. E Frei Luciano acolheu nossa proposta. Com isso foi celebrado um convênio entre Secretaria da Reforma do Judiciário, através do Ministério da Justiça, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Defensoria Pública e Escola Superior da Magistratura- AJURIS, representada pelo Núcleo de Estudos de Mediação (NEM) com o Instituto Cultural São Francisco de Assis, através do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente (CPCA). Foi um momento de muito esforço e de intensa alegria. Precisávamos ir à comunidade para sensibilizar os habitantes da Lomba do Pinheiro acerca da importância da formação de agentes comunitários. Era necessário formatar um curso, pensar nos pressupostos para serem agentes, selecionar os inscritos, abrir espaço para a prática. Além disso, ainda havia a supervisão e atendimento para os casos que exigiam homologação judicial. Os agentes nos surpreendiam a cada dia. Entusiasmados por atuarem na e para a comunidade, estavam sempre dispostos a aprender. A equipe técnica do CPCA aderiu à proposta, engajando-se de tal forma que o trabalho fluía. Conseguiam até mesmo participar dos nossos encontros de estudos. Infelizmente, a falta de comprometimento dos agentes políticos com a população da Lomba do Pinheiro fez com que a carência de verbas para manutenção do serviço levasse ao fim do convênio. Mas, com persistência franciscana, Frei Luciano conseguiu outros parceiros.

A semente da mediação comunitária foi lançada e, com certeza, mesmo indiretamente permanecerá, pois caiu em solo fértil. A população tem consciência de seus direitos e o CPCA continua com seu trabalho eficiente colaborando para dignificar as relações familiares e desenvolver as potencialidades de crianças e jovens. Muito tem sido realizado por Frei Luciano e seus colaboradores. Do nosso querido Frei, recebemos a lição de não desistirmos quando se trata de manter o olhar para o irmão que sofre de estender a mão amorosa e fraterna a quem nos procura ou a quem nós encontramos. Deus continue a iluminar sua vocação, Frei Luciano. O NEM agradece pela oportunidade que nos concedeu de implantar a mediação comunitária no CPCA da Lomba do Pinheiro e reconhecer o quanto de sua perseverança nos estimulou a permanecermos na firme convicção de que é possível termos um mundo melhor, com a proteção da dignidade de cada um, procurando atuar pela paz e, assim, fazer justiça. PAZ E BEM!

Genacéia da Silva Alberton
Coordenadora do NEM



Com a palavra, Frei Luciano Bruxel


Trajetória


Nasci, em 18/12/1969, em Paverama - Localizada na região do Vale do Taquari - já, na primeira infância fixei residência na cidade vizinha, Estrela. Ainda bem jovem, iniciei minha formação junto aos Franciscanos da Ordem dos Frades Menores, da Província São Francisco de Assis do Rio Grande do Sul. Em 1991, fiz o Noviciado, com ingresso na ordem Franciscana e desde então, passei a morar em Porto Alegre onde fiz, primeiramente, meu percurso formativo em filosofia, psicopedagogia e espiritualidade. Enquanto estudava ia, gradativamente, assumindo o trabalho junto ao CPCA - Centro de Promoção da Criança e do Adolescente São Francisco de Assis. Em 1997, me tornei diretor dessa entidade e passei atuar junto ao Fórum Municipal dos direitos Da Criança e do Adolescente e ao CMDCA – Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Porto Alegre, no qual, atualmente, estou na presidência. Minha trajetória de vida e trabalho tem sido de militância pela defesa de direitos enfrentamento à violência, nesse percurso tenho interagido com pessoas e projetos importantes que hoje se misturam às escolhas pessoais, institucionais e politicas tanto da área social quando da área de direitos humanos. 

Mediação comunitária e a parceria NEM | CPCA: 

uma forma de Justiça construída com e na comunidade


Fonte: http://www.mediarconflitos.com

Um dos encontros marcantes e decisivos em relação a minha tomada de consciência frente a complexidade dos temas que tenho me envolvido foi com o Núcleo de Estudos de Mediação de conflitos – NEM e com a Justiça Restaurativa, no Programa Justiça para Século 21. Por ocasião da chegada do NEM, com todo seu time, foi se construindo uma relação sólida, progressiva e muito experiencial de formação e mediação de conflitos. Ainda está muito vivo na memória os inúmeros encontros de formação estre nossa equipe de trabalho e os agentes de mediação comunitários ambos vinculados ao projeto. A Rose Seewald, a Izabel, o Ricardo Dornelles, Dra. Genacéia Alberton, Dr. Bolzan, Dra. Rosana Garbin, Professor Vezzulla, Prof. Adolfo, e tantos outros, foram incansáveis entusiastas que nos contagiaram com a mediação, e mais, fizeram aqui, na Lomba do Pinheiro, sair do papel um grande sonho: CPCA e a comunidade, juntos, implantarem uma forma de Justiça construída com e na comunidade. O processo iniciado em 2007, culmina com um a celebração de convênio entre a Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça e o CPCA, para a instalação do primeiro Núcleo de Justiça Comunitária do Rio Grande do Sul. Essa bela experiência, encerrada enquanto convenio em 2011, mantém suas marcas até hoje na comunidade e na vida das pessoas, como se pode verificar nos mais de 50 agentes comunitários formados no período e que seguem suas vivas promovendo os valores e os princípios deste gestados projeto. Muitos, inclusive, relatam o quanto mudaram em suas relações interpessoais, na sua forma de exercer sua liderança comunitária, que acontecer na mediação das relações no seus espaços vivenciais.

Justiça para o Século 21: multiplicando a cultura de paz


Fonte: cpca.org.br/



Por falta de uma política local e Nacional, sem o convênio para manter equipe técnica do Núcleo de Justiça Comunitária, encerramos o projeto e fomos procurar alternativas de nos mantermos vinculados aos processos de mediação, resolução e conflitos e construção de paz, aí encontramos terra fértil na Justiça Restaurativa.

Com vistas a implantação de centrais de práticas na comunidade, fora celebrado convênio em parceria direta do Ministério Público do RS e do Programa Justiça para Século 21. Essa ação hoje integra Centro da Juventude do CPCA, financiada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Rio Grande do Sul. Posso, com tranquilidade dizer que a mediação e a JR, qualificaram significativa e decisivamente o trabalho como um todo de nossa entidade. Hoje, a leitura que fazemos do fenômeno da violência e dos conflitos da convivência humana é muito diferente, bem como nossa abordagem pedagógica no trabalho social e na promoção humana. Temos um antes e um depois da mediação e da JR, que radicalmente tem-nos feito intervir de maneira mais orgânica e consequente em nosso território de ação.



Desafios estruturais e sociais


Os grandes desafios que CPCA encontra, atualmente, são os mesmos de muitas comunidades da periferia urbana das médias e grandes cidades. Estas que acolheram milhares de pessoas do interior, muitas do campo, com sonho de dias melhores na cidade grande e que neste percurso perderam referências comunitárias e muitos valores delas derivados e, ao mesmo tempo, encontraram muitas resistências, frustrações, e daí ocorre que muitas de suas necessidades não serem atendidas e o estado torna-se frágil e ausente nas politicas públicas. Vive-se com muitos problemas estruturais e ao mesmo tempo neste vácuo deixado pela ausência do estado, vemos o surgimento de inúmeras facções que disputam o tráfico gerando um clima tenso e de profunda insegurança. Neste terreno, atuamos como instituição que se move por um princípio que brota da Espiritualidade Franciscana de que todo ser humano é portador do sagrado independente de seu credo, e por isso portador de uma incondicional dignidade que deve ser acordada e valorizada. No Estatuto da Criança e do adolescente – ECA - o sagrado direito a convivência familiar e comunitária e do SUAS o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Atentos aos nossos grandes desafios sociais, com as rupturas na convivência familiar e comunitária, que possui inúmeros atravessamentos, surgem a Medição Comunitária e a Justiça Restaurativa que nos permitiram vislumbrar as dores humanas, os conflitos, as necessidades não atendidas como uma oportunidade de aproximação e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. 



"Tirar o peso da dor da fratura nas relações interpessoais é condição indispensável para superação da vulnerabilidade social."

Fonte: cpca.org.br/
 É isto que temos buscado incansavelmente fazer nos diferentes serviços e programas sociais que realizamos, desde o atendimento Familiar, serviço de fortalecimento de Vínculos familiares comunitários, inúmeras oficinas do projeto orquestra Villa Lobos, Fábrica de Gaiteiros, Aprendizagem, Cursos, Centro da Juventude, Abordagem de crianças adolescentes, jovens e adultos moradores de rua, até o Acolhimento de crianças e adolescentes em dois abrigos residenciais.

O necessário olhar coletivo, colaborativo e restaurativo


Fonte: cpca.org.br

Por fim eu gostaria de dizer que tenho grande dificuldade de conceber um olhar singular pois meu eu, minha subjetividade, se constitui a partir do coletivo, ela acontece no plural de vivencias que me fizeram desde minha família, vida religiosa franciscana e de modo muito particular os anos CPCA com todo seus encontros dos quais destaco o encontro com o NEM e JR, que me/nos deram ferramentas metodológicas importantes para lidar com as inúmeras experiências de dor, de conflitos que buscam em nosso trabalho um alento, um cuidado. Acredito ainda que nesse cenário político, econômico tão cheio de obscuridades e injustiças nós precisaremos muita capacidade de mediação e restauração, como talvez o único caminho para sairmos de tão grave crise.

Foto Guilherme Almeida/CMPA
Edição de texto e edição de fotos: Aline Leão